Nomes conhecidos do design de mobiliário, como Charles e Ray Eames, Eero Saarinen, Harry Bertoia e Florence Knoll têm algo em comum: todos estudaram e lecionaram na Cranbrook Academy of Art. Lá, em Bloomfield Hills, Michigan, essas lendas não apenas se tornaram amigas para toda a vida, mas também começaram a inspirar-se profissionalmente, num ambiente onde a experimentação artística era estimulada ao máximo, para criar, nos anos subsequentes, móveis que se tornaram sinônimos do modernismo de meados do século.
Em 1931, o arquiteto finlandês Eliel Saarinen, pai de Eero e primeiro presidente da Cranbrook, resumia, um ano antes da abertura da instituição de ensino, o espírito de autonomia e experimentação que a norteia até hoje: “a arte criativa não pode ser ensinada por outros. Cada um tem que ser seu próprio professor”. Sem cursos obrigatórios, sem notas, e rejeitando a tradição educacional das Belas Artes, substituindo professores acadêmicos por artistas praticantes, a Cranbrook Academy of Art é, não à toa, chamada por muitos de Bauhaus norte-americana.
Segundo Eliel Saarinen, aquele espaço era “um lugar de trabalho para a arte criativa”. Charles Eames o descreveu como um “atelier de fluxo livre com as forças provenientes das pessoas que o constituem”. Foi lá que ele e seus pares desenvolveram estilos únicos e orgânicos e construíram relações que foram fundamentais para o progresso do design.
Projetado por Eliel, com a ajuda da esposa Loja Saarinen e de seus filhos, o campus de mais de 300 acres teve cada detalhe pensado como parte de uma Gesamtkunstwerk, uma obra de arte total. Andrew Blauvelt, atual diretor do Cranbrook Art Museum, afirma que o local “é provavelmente o ambiente projetado de forma mais completa localizado nos Estados Unidos”.
Além do jovem Eero, Florence Schust – que posteriormente mudaria seu nome para Florence Knoll – também cresceu no ambiente projetado por Eliel e sob a influência da família Saarinen. Órfã, ela decidiu matricular-se na Kingswood School for Girls, adjacente à Cranbrook. A escola oferecia um programa educacional inovador, baseado em grande parte em trabalhos manuais. Lá, Florence estudou tecelagem com Loja e, interessada em arquitetura, começou a ser orientada por Eliel.
Rapidamente, ela foi integrada ao lar dos Saarinen, passando até férias com eles na Europa. Sete anos mais velho, Eero tornou-se para ela quase um irmão maior. Ao passo que ele criaria alguns dos produtos mais icônicos da Knoll – como a poltrona Womb e a coleção Tulip -, na época em que Florence era diretora de design da marca, ela projetou numerosos interiores, incluindo o do célebre General Motors Technical Center, para o escritório de Eero.
Foi também na Cranbrook que Florence conheceu Harry Bertoia, a quem ela e seu marido escreveram convidando a colaborar com a Knoll, em 1950. Convite aceito, o escultor mudou-se para a Pensilvânia e pôs-se a trabalhar no estúdio concedido a ele pelo casal, numa das primeiras fábricas da empresa. O acordo era que Bertoia, caso chegasse a algum resultado interessante a partir de suas experimentações com mobiliário, o disponibilizasse à Knoll para os retoques finais. Lançada em 1952, a coleção que leva seu nome é uma das mais esplêndidas da história do mobiliário.
Já praticando a profissão de arquiteto, Charles Eames foi trazido à Cranbrook por Eliel, que lhe ofereceu uma bolsa de estudos em 1938. Três anos depois, ele e Eero ganhavam o primeiro prêmio no concurso intitulado “Design Orgânico em Móveis Domésticos”, organizado pelo Museu de Arte Moderna de Nova York. No projeto gráfico, a dupla de amigos contou com a ajuda determinante de uma colega, jovem pintora, que acabara de chegar por lá: Ray Kaiser, que, casando-se com Charles no ano seguinte, adotou o sobrenome Eames. O anel de casamento deles foi projetado e confeccionado por Bertoia.
Charles foi nomeado chefe do departamento de design industrial da Cranbrook, função que ocupou até ele e Ray se mudarem para Los Angeles, em 1941, para abrir o Eames Office. No novo local, eles deram sequência às experimentações de Charles e Eero com madeira laminada, envolvendo sua fantástica equipe para projetar e produzir talas e macas para a marinha dos EUA, durante a Segunda Guerra.
Menos conhecido é o fato de que a Cranbrook Academy of Art está ativa até hoje. Passaram por lá alguns dos maiores artistas norte-americanos: Frank Okada, na década de 50; Nick Cave, no anos 80; e já no Século XXI, Conrad Egyir.