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Uma revolução estética nascida da amizade

A Segunda Guerra acabara de chegar ao fim e uma empresa de mobiliário fundada na década anterior se aprontava para assumir uma posição assaz elevada no mercado. Ela agora tinha o que faltava às concorrentes: alguém para coordenar os seus processos criativos. Florence se formara em arquitetura, mas seu trabalho na marca fundada por Hans Knoll evoluíra num ritmo impressionante. Em Manhattan, ela estava encontrando um estilo para a apresentação de produtos envolvendo criações artísticas de forma que até então só ocorrera nas mais prestigiadas casas de moda parisienses.

Hans Knoll e Florence Knoll

O percurso estudantil de Florence incluia múltiplas instituições renomadas. Em Columbia, ela estudara planejamento urbano. Na Cranbrook Academy of Art, ela obtivera uma educação baseada no método dos ateliês. Entre estas duas experiências, ela conhecera em Londres o já renomado arquiteto Mies van der Rohe. Sua bagagem estava portanto cheia de referências, das quais ela começava a se valer de maneira inequívoca.

Cranbrook Academy of Art

De pronto, ela apontou a necessidade de refinar a cultura visual da marca. Isto levou à contratação de Herbert Matter, cuja experiência em marketing e design gráfico foi rapidamente conferindo à Knoll nova roupagem.

Knoll por Herbert Matter

Outra colaboração de essencial valia nesse período foi a de Harry Bertoia, de quem Florence tornara-se amiga na Cranbrook. À época mais conhecido como escultor, ele desenvolvia sua percepção espacial de uma forma que o levaria, primeiro, a contribuir decisivamente na definição estética dos showrooms, e – depois – na criação de alguns dos produtos mais icônicos da marca.

Não tardou para que Florence chamasse para colaborar com a Knoll aquele que havia sido o seu primeiro grande mentor: o arquiteto Eero Saarinen, que daria então seus primeiros passos como designer. À ele, Knoll disse que considerava as poltronas até então produzidas pela indústria moveleira pouco confortáveis. Ela queria algo mais aconchegante, que permitisse uma diversidade de posturas.

Florence Knoll e Eero Saarinen

Inicialmente, Saarinen teve dificuldade de visualizar algo que atendesse à demanda de Florence sem que por isto ele desviasse do estilo que buscava, composto por linhas orgânicas e uma utilização reduzida de materiais. Ele associava até então o acolhimento do qual falava a diretora de design da Knoll a um estofamento vasto, porém esta opção tornava impossível o que ele desejava em termos estéticos.


Foi então que a descoberta, por parte dele, da natureza moldável da fibra de vidro abriu-lhe um horizonte. Saarinen experimentou então uma variedade de formas, até que chegasse à altura de sua imaginação. Nascia então o primeiro clássico da marca norte-americana: a poltrona Womb.

Poltrona Womb

Após tamanho êxito, Florence e sua equipe entenderam que chegara o momento de fazer à Mies van der Rohe a proposta de integrar alguns de seus célebres designs ao portfólio da Knoll. Assim, o arquiteto alemão lhes cedeu os direitos de fabricação da Barcelona, projetada por ele e Lilly Reich, e de outros produtos icônicos, como a Tugendhat, recentemente relançada pela marca norte-americana.

Poltrona Barcelona e mesa Tugendhat

Outro expoente da Bauhaus a ter os direitos de produção de suas mais famosas criações adquiridas pela Knoll foi Marcel Breuer. Florence trabalhara como sua aprendiz, pouco antes de ser contratada pela empresa que ela revolucionava de forma sutil, e portanto duradoura. Produtos magníficos, como a poltrona Wassily e a cadeira Cesca, conferiram seu brilho inigualável ao catálogo que se tornava um dos grandes representantes do design moderno.

Cadeira Cesca e poltrona Wassily

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