QUANDO: 25 de novembro de 2014
ONDE: Atec Cultural, no showroom da Atec Original Design
ENDEREÇO: Av. Brig. Faria Lima, 1.800 – 10º andar
CAPACIDADE: 60 lugares
INSCRIÇÕES: pelo telefone 11 3056-1800
PREÇO: a entrada é gratuita
A palestra versará sobre os retratos do fotógrafo Militão Augusto de Azevedo, muito conhecido pelas imagens da cidade de São Paulo que produziu nas décadas de 1860 e 1880. No entanto, Militão ganhou a vida como fotógrafo retratista, atuando na rua do Rosário em ateliê próprio chamado Photographia Americana. Produziu mais de 12 mil retratos que se encontram hoje no Museu Paulista da Universidade de São Paulo. Tamanha produção aconteceu em uma época em que a cidade contava com apenas algumas dezenas de milhares de habitantes. Fotografar-se em um ateliê significava conquistar um lugar na modernidade urbana.
Muitos dos que adentraram o ateliê de Militão tiveram pela primeira vez a oportunidade de se sentir imersos em um ambiente pouco familiar, mas nem por isso menos ambicionado. Sentaram-se pela primeira vez em uma poltrona estofada, sentiram a maciez do veludo, colocaram-se ao lado de um vaso decorativo, seguraram um livro, um guarda-chuva, um leque, apoiaram-se em uma coluna ou uma balaustrada, pisaram um tapete, e contrastaram sua imagem ereta e bem posta à frente de cortinas, lareira e castiçal simulados na pintura do painel de fundo.
Com a ajuda do fotógrafo, essas pessoas aprendiam a se sentar, exibir as mãos e a fazer expressões faciais de um modo considerado apropriado a um habitante da cidade. Esse exercício não era feito sem distinções de gênero. O retrato serviu para engendrar conceitos de modernidade diferenciados para homens e mulheres. Por meio da análise de posturas e do uso de objetos cenográficos é possível compreender a fotografia como um agente ativo na construção de categorias sociais.
O trabalho de curadoria do Museu Paulista sobre a coleção de retratos de Militão, que se desdobrou na produção de um curta-metragem (Poses do 19) e de um interativo (Animatoscópio), ambos dirigidos pelo artista plástico Gavin Adams, tiveram o objetivo de fomentar no público, por meio de uma linguagem também visual, uma reflexão sobre o papel da imagem técnica na formação da sociedade urbana.
Vânia Carneiro de Carvalho é doutora em História Social pela Universidade de São Paulo e atua, desde 1990, como curadora e pesquisadora no Museu Paulista da USP. Participa do Programa de Pós-Graduação em História Social do Departamento de História da FFLCH-USP. Publicou com Solange Ferraz de Lima vários textos sobre fotografia, entre eles Cultura visual: tipos e estereótipos na era da reprodutibilidade técnica da imagem (Dobras, 2012); O corpo na cidade: gênero, cultura material e imagem pública (Estudos Históricos, 2011); Fotografia: usos sociais e historiográficos (In: Carla Bassanezi Pinsky; Tania Regina de Luca (org.). O historiador e suas fontes, 2009); Individuo, Género y Ornamento en los retratos fotográficos, 1870-1920. (In: Fernando Aguayo; Lourdes Roca (org.). Imágenes e Investigación Social, 2005), entre outros. Seus interesses por fotografia estão associados não apenas ao trabalho de curadoria, mas a questões ligadas a gênero e espaço doméstico, tendo publicado Gênero e artefato: o sistema doméstico na perspectiva da cultura material (EDUSP/FAPESP, 2008), Artifícios da decoração: ilusão e mimetismo no espaço doméstico paulistano (In: Ana Maria de Almeida Camargo (org.) São Paulo: das tribos indígenas às tribos urbanas, 2013); On Ornament and Hygiene. Modernity in the Domestic Space of a Brazilian Capital. São Paulo, 1870-1920 (In: Sandra Dudley et all. (org.). Narrating Objects, Collecting Stories, 2012) e Cultura material, espaço doméstico e musealização (Varia História, 2011).